terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Quase

QUASE
(Maurício Santini)
O quase mata, aterroriza, angustia. O quase é a razão da ansiedade. Todos os “quases” que me foram ditos são lamentáveis. O quase é perda de tempo e energia e quase sempre nos arremata à velhice das nossas idéias. Quase fui, quase chego, quase voltei, quase, quase, quase...
Aquela viagem que eu quase fui, mas não deu. Aquela pessoa que eu quase beijei, mas tive medo. Aquele emprego que quase larguei, mas me faltou coragem. O quase pode até salvar, mas não deixa a gente viver. Quase caí, mas me levantei. Quase morri, mas estou vivo. Mas, o quase, quase sempre causa frustração.
Aquela frase de amor que eu quase disse, mas tive vergonha. Aquele abraço fraterno que quase dei, mas me faltou tempo. Aquela jura de afeição que quase entoei, mas me segurei na minha indecisão. O quase é quase sempre prejudicial à saúde porque deixa resquícios de ilusão pelo corpo.
Aquela loucura que quase fiz, mas não tive peito. Aquela verdade que quase eu disse, mas que fingi para proteger a mim mesmo. Aquela ofensa que quase calei, mas que por vaidade gritei. Aquele momento que quase vivi, todavia preferi resguardar-me de receio.
O mundo, quase na sua totalidade, passa por quases que são capazes de mudar o curso das nossas vidas. O quase é o sinônimo da omissão. O quase nos empaca, nos bloqueia, nos estanca. Quem quase amou, não amou. Quem quase viveu, não viveu. Quem quase sorriu, permanece triste. Quem quase vai, nunca chega lá. Quem quase volta, sempre fica. Quem quase é tudo, é quase nada também.
Vamos abolir o quase infrutífero das nossas vidas. Vamos dizer que faremos sim, numa próxima oportunidade. Vamos realizar. Vamos beijar, abraçar, afagar, dizer, fazer o que tem que ser feito. Vamos deixar o quase quase esquecido e só o utilizaremos para nos salvar dos perigos. Vamos completar o quase, sempre! Seremos mais felizes sem o quase. E nunca seremos quase felizes!


Tenham um lindo dia!

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