quinta-feira, 12 de março de 2009



Na Margem do Rio Piedra
Paulo Coelho

Na margem do Rio Piedra eu me sentei e chorei.

Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio
-as folhas, os insetos, as penas das aves-
se transforma nas pedras do seu leito.
Ah, quem dera eu pudesse arrancar o coração do meu peito
e atira-lo na correnteza,
e então não haveria mais dor, nem saudade,
nem lembranças.
Ás margens do rio Piedra eu me sentei e chorei.
O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas
em meu rosto, e elas se misturaram
com as águas geladas que correm diante de mim.
Em algum lugar este rio se junta com outro,
depois com outro, até que
distante dos meus olhos e do meu coração
todas estas águas se misturam com o mar.
Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe,
para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele.
Que minhas lágrimas corram para bem longe,
e então eu esquecerei do rio Piedra, do mosteiro,
da igreja nos Pirineus, da bruma,
dos caminhos que percorremos juntos.
Eu esquecerei as estradas, as montanhas,
e os campos de meus sonhos
sonhos que eram meus, e que eu não conhecia.

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